Se calhar este texto já vem um bocadinho tarde mas a verdade é que mais vale pecarmos por chegar fora de horas do que nos agarrarmos às desculpas para adiar ou desistir uma vez mais. Existem sempre muitos motivos para deixarmos de fazer aquilo que devia ser feito porque “já não faz sentido”, porque “sendo assim mais vale fazer amanhã ou para o ano”, etc, etc. A nossa cabeça é uma fonte inesgotável de álibis intelectuais para nós mesmos. Somos mestres em criatividade para arranjarmos justificações que, aparentemente nos parecem racionais e, por isso, confortáveis, para não arriscarmos a mudança.
Por tudo isto este texto já vem assumidamente tarde mas, ainda assim, faz todo o sentido escrevê-lo!
O Natal está prestes a chegar e azafama para cumprirmos todas as nossas obrigações começa a apertar e a tornar-se uma fonte de stress. São os presentes que estão a ser deixados para a última da hora, é a sensação de imposição desta quadra de os comprarmos que nos retira aquilo que devia ser prazer. Compra-se à pressa, sem sentimentos, sem tempo para escolher e afastamo-nos do verdadeiro significado que isto tudo deveria ter. É a pressão do saldo bancário não nos permitir fazer aquilo que gostávamos e a amargura que sentimos por esta quase auto-obrigação que dizemos que a sociedade e a quadra nos impõe. Julgamo-nos por não termos começado com mais tempo, por não termos aproveitado os saldos e por não termos tido a criatividade de criar presentes personalizados mais económicos mas com muito mais valor e significado. Culpamo-nos por não sentir o espírito de Natal que recordávamos ter em criança, sabemos que se perdeu algures no caminho e todos os anos achamos que vai voltar como que por magia. Arrependemo-nos de não ter valorizado Natais anteriores com pessoas que já cá não estão ou ficamos nostálgicos a reviver as memórias que cá andam perdidas dentro. De repente uma época que se espera feliz torna-se angustiante, demasiado emocional e sem sentido. Desejamos que acabe rápido e que seja indolor. Não é suposto.
O Natal, seja qual for o significado que lhe atribuamos, tem a particularidade de ser uma época em que queremos estar com as pessoas que mais gostamos e lembra-las com gestos (e não necessariamente presentes na sua forma mais comercial) do quanto significam para nós. São dois ou três dias de correrias que nos permitem fazer esticar o tempo e poder ver todos aqueles que têm significado para a nossa vida. Desembrulhar um presente não tem mais valor do que uma carta ou apenas um abraço diferente. A mesa de jantar pode não ser igual à das revistas mas a das fotografias e dos filmes não tem aquelas pessoas que nos vão fazer rir, falar durante horas e ser um bocadinho mais felizes. O verdadeiro significado do Natal é a possibilidade que nos dá de construirmos o nosso próprio significado, as nossas próprias tradições e tudo aquilo que faz sentido para nós mesmos.
Diz-se muitas vezes que “o Natal é quando o homem quiser”. Não é. No seu sentido lato e metafórico esta afirmação faz todo o sentido mas a verdade é que se torna mais uma vez um álibi para adiarmos. Se pode ser quando quisermos pode ser para a semana que vem ou talvez em Fevereiro que dá mais jeito. Não. O Natal tem datas específicas. Pode acrescentar-se mais uns dias mas o Natal é ali no dia 24 e 25 de Dezembro. Anualmente. E anualmente temos o poder de o tornar especial e único. De o tornar menos naquilo que criticamos e mais naquilo que gostávamos que fosse. Esse é o verdadeiro sentido do Natal. O Natal é o que quisermos que seja. Sendo assim, estamos totalmente a tempo.
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